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segunda-feira, 23 de junho de 2014

As diferenças entre como os Terapeutas interpretam e como os Autistas Maduros interpretam certos comportamentos autísticos

Na análise do Autismo do ponto de vista comportamental, existem grandes diferenças na maneira em como a Ciência vê e interpreta os comportamentos autísticos, observando o autista apenas do lado de fora, em suas manifestações, e na maneira com que os Autistas Maduros, com o e...scriba que aqui vos fala, vêem e interpretam estes mesmos comportamentos autísticos.
Assim,eu gostaria de expressar aqui a minha visão sobre este assunto, haja vista que, de acordo com o que já vivi e vivo como autista e de acordo com minha experiência no lidar com autistas severos na AMA, existem em algumas postagens nos Grupos do Face em geral por aí algumas informações que não coincidem com o como eu vejo este assunto das diferentes abordagens e interpretações das manifestações comportamentais autísticas:
Devo, no entanto deixar claro que as interpretações que eu coloco aqui não devem ser tomadas como tentativas de impor verdades absolutas, ou criticar outras abordagens e interpretações que não as minhas, que aqui, estrão sendo apenas propostas com o objetivo de reflexão por parte dos terapeutas, par que estes possam tomar conhecimentos de novas e diferentes abordagens e interpretação, e com seus botões julgar se acham procedentes ou não, não sendo necessário que eles exponham nas respostas a este tópico suas conclusões, só se eles quiserem ou julgarem conveniente, mas não existem quaisquer obrigações neste sentido, claro. O objetivo deste texto é mostrar que, além da abordagem clínica-científica, existem outras abordagens possíveis e que podem ser (ou não) cientificamente válidas, mas que de qualquer modo valem a pena refletir sob elas e, por um breve lapso de tempo, experimentar mudar um pouco o foco para variar.

Por exemplo, certos comportamentos autísticos podem parecer a alguns terapeutas uma desorganização/distração e esquecimento, ou ainda, não compreensão das expectativas/ reação ao novo/stress/ tentativa de autoregulação sensorial ou aumento de ansiedade ; são todas abordagens e interpretações possíveis e comuns do ponto de vista clínico.
Ao meu ver, no entanto, não interpreto como não compreensão das expectativas, nem reação ao novo/stress, nem tentativa de autoregulação sensorial / aumento de ansiedade, ou desorganização, mas sim como tendo a ver com o principal componente da mente autística, que é o Mundo Interno de Fantasia (MIF).
Então vamos falar primeiro da questão da desorganização: organização é algo relativo- o que está perfeitamente organizado para uns está bagunçado para outros, é Pirandello com a diversidade humana de pontos de vista. O fato é que se trata não de uma desorganização, mas uma organização diferente d que as pessoas estão acostumadas, fora dos padrões. O que é chamado de desorganização na verdade, para o autista é uma organização perfeita: pode parecer tudo bagunçado, mas o autista sabe exatamente onde cada objeto está e se os pais arrumarem do jeito deles e organizarem (do ponto de vista deles), o autista ficará perdido, e nervoso, por que está tudo imprevisível e fora do esquema que ELE bolou e s coisas já não estão do jeito que ele quer, e ao ver dele, as coisas TEM que estar do jeito que ele quer. Tanto que, se você guardar um objeto num lugar que não tem nada a ver com os locais de costume dele, ele não fará uma busca sistemática e detalhada pela casa, e sim, procurará automáticamente apenas nos locais onde ELE costuma guardar.
E ficará indo de um lugar que ele costuma guardar para outro, indo e voltando várias vezes e ficando irritado, porque ele acha que as coisas TEM que estar de qualquer jeito onde ele costuma guardar, e acha que os pais tem obrigação de saber onde ele costuma guardar(afinal eles veem onde ele guarda todo santo dia).Aos pais, e terapeutas, isto pareceria TOC, ou algo repetitivo, mecânico, mas não é : na mente dele é inaceitável que algo esteja em um lugar diferente do que ele os deixou, pois os objetos, como bons personagens de seu MIF, lhe obedecem! Só depois que ele vê que não tem jeito, que os objetos não estão onde ele costuma deixar, que, inconformado e com raiva dos pais ou empregada que mexeram nas sagradas coisas dele e na sagrada organização das coisas dele, que ele fará uma minuciosa busca pela casa toda, até nos lugar que (segundo ele) seriam os mais improváveis possíveis. Ao encontrar, ele vai recolocar, mesmo contra a vontade dos pais ,o objeto em um dos lugares onde costuma colocar sempre. Resistência a mudanças? Não! Como ele gosta de previsibilidade, ele se sente muito mais seguro colocando s coisas e as organizando como gosta, onde gosta, por que tem certeza absoluta que sempre encontrará o objeto ali. Por isto, uma empregada que cada vez que vem, organiza as coisas da cabeça dela, cada semana de um jeito diferente, é um terror para ele, pois aí ele nunca sabe onde os objetos estão e vem uma enorme insegurança. Porque se tornou imprevisível, e se imprevisível, se tornou hostil e inseguro, e se não conseguiu achar, ELE falhou. Se a Mãe ou a empregada acharem para ele, Ele falhou, porque era para ELE achar, não a mãe, a empregada quem seja, ele tem a obrigação de achar, mesmo que a culpa de não ter achado não seja dele, ele não se perdoa e pode se punir. Se os pais dão bronca, falam que está uma bagunça e mandam ele arrumar do jeito DELES, na organização DELES, ele se sente desrespeitado, incompreendido na sua necessidade premente de ter sua liberdade de organizar do jeito dele e de organizar de um jeito que ele(muitas vezes só ele mesmo) acha tudo, e assim, por consequencia se sente rejeitado, desamado, injustiçado. Se sobrevem a insistência materna/paterna de impor a organização do jeito DELES, é a receita certa e infalível para um meltdown e uma explosão de fúria, sobretudo se esta insistência se dá todo santo dia e estes sentimentos dele vão se acumulando- é muita pressão externa em cima dele! E ela não aceita a maneira de organizar dos pais por que seja incapaz de compreender ou de aceitar, por seja limitado, mas porque do ponto de vista dele, ele está certo, não os pais, o jeito de organizar dele é o certo, não o dos pais, ele já elegeu seu padrão e quer que os pais entendam que o único jeito de ele ter 100% de certeza que sempre achará tudo é o DELE. Mas tem mais: ele, ao contrário dos pais, vê uma beleza, uma harmonia perfeita, uma estética divina no jeito que ele organiza, e qualquer outra maneira será feia porque não é a DELE. É meio que um certo narcisismo de se admirar dele mesmo, do que ele faz e achar que tudo o que ele faz é perfeito, porque ele acha que ele não pode se dar ao luxo de errar, ele cobra perfeição de si (Juiz Interior) e exige perfeição dos outros e cumprimento pelos outros de sua própria "perfeição" (Ditador Interior).Então , ou ele se acha o máximo, ou ele se acha o mínimo. Se ele é bem sucedido, ele se acha o máximo, se ele falha, ele se acha o mínimo, de qualquer modo (parêntese para o humor aspie aqui, muito irônico) ele se acha- e não se perde !KKKKKK...

E porque não seria distração/esquecimento? Vamos voltar ao MIF? Bom, autistas tem uma capacidade de concentração mental fenomenal, tanto que constroem MIF´s super ultra sofisticados e tem um raciocínio super ultra sofisticado, que trabalha com um volume de informações muitíssimo maior do que a mente das outras pessoas costuma utilizar para o mesmo assunto, pois a mente neurotípica é sintética, a mente autística é complexa, no que tange 'a análise dos assuntos corriqueiros ou não e no modo de organizar e expor pensamentos e raciocínios. Tudo isto demanda uma enorme energia mental, esforço idem e concentração idem, e o resultado é sobrar muito pouco para os eventos exteriores. como bom burocrata, o autista hierarquiza e organiza os assuntos em ordem de importância(pra ele, que geralmente é diferente da dos outros), assim, enquanto para os outros os assuntos exteriores(da realidade, do dia a dia, corriqueiros) são os mais importantes, para os autistas estes assuntos estão láaaaa atrás, no fim da lista de prioridades. Quem está nos primeiros lugares? Os assuntos internos do MIF dele e os assuntos de interesse dele, claro !Então para ele, terminar o download do episódio de anime que ele demorou semanas para conseguir encontrar na internet é muito mais importante do que ir colocar o lixo para fora, por exemplo.
E ele está tão concentrado, mas tão concentrado nesta tarefa de terminar o download que ele escuta, mas nem presta atenção(não sobra atenção, está toda concentrada em outra coisa).Pedidos insistentes, gritos, ou pior ainda, desligamento do computador, são outra receita infalível de como fazer um autista surtar feio...rsss...melhor nem pedir, a pessoa mesma fazer, porque ele terá a pior má vontade, autistas detestam tudo que é imposto e que não entendam o que ele quer e pensa. Por isto que ele aceita muito bem as mudanças de rotinas que ele mesmo implementa, e não aceita as que são impostas a ele contra a vontade dele. E não é incapacidade de entender a importância de colocar o lixo para fora, é que ele já hirerarquizou e decretou para si mesmo que colocar o lixo para fora está no lugar 20.561 da lista de prioridades dele. Se você quiser convencê- lo a subir o item "colocar o lixo para fora" mis alto na lista de prioridade , prepare-se para uma batalha lógica: ele exigirá argumentos lógicos e complexos que o convençam por A+B que o lixo é mais importante que o querido, amado idolatrado salve salve download dele- boa sorte !Rsss...pois para o lixo ele dará mil razões perfeitamente lógicas para não ser considerado importante e para te explicar como o download dele é importante, ele te dará dez mil explicações mais lógicas ainda ...rssss...autismo, enfim é a vaidade, amor próprio e orgulho do ego elevada ' milésima potência. rsss...especialmente o as duas primeiras partes em si do que eu já disse aqui já excluem possibilidade de auto regulação sensorial e aumento da ansiedade(a segunda aliás pode ser decorrência, consequência do que já disse acima, ou seja, do lidar inadequado com o Autista).Autista imaturo!
Quanto ao que for visto como resistência a mudanças, preferência por rotinas e ações repetitivas na verdade serem tentar manter previsibilidade e ordem, não sabe como atender expectativas e falta de perspectivas diferentes, apenas o primeiro item ao meu ver está correto. Vejam que, quando se fala em "atender expectativas" isto significa atender expectativas dos outros, não as dele, e como se sabe, as dele para ele são muito mais importantes para ele que as dos outros, que estão láaa em baixo na lista de prioridades mental. Porém, há um fator complicador ali; a imprevisibilidade e a "ferocidade" dos pais e/ou professores, que, na visão dele, teimam em insistir nas prioridades erradas(do ponto de vista dele), criando, eles próprios, expectativas diferentes das dele, que ele não está interessado em cumprir, mas com medo das reações deles, se vê obrigado, contra a vontade, reclassificar e colocar as prioridades deles. No momento em que ele deixa de querer atender suas próprias prioridades e corresponder 'as suas próprias expectativas e prioridades para atender e corresponder 'as dos outros, há uma queda de rendimento e eficiência, porque nas dele ele está seguro de si que consegue, nas dos outros, desconhecidas, onde ele é inexperiente, ele fica inseguro, e se falhar, um desastroso efeito dominó provocado pelo Juiz Interior e Ditador Interior o levará ao fracasso, e como se trata de uma experiência nova, ele não saberá onde e no que errou, o que o levará a novas cobranças interiores, o que , se juntar 'a cobranças exteriores insistentes, são mais uma maneira de se induzir um autista ao surto. Vejam, senhoras e senhores e senhoritas...rsss, que a segurança de si, a auto confiança e a auto estima do autista está firmemente ancorada na previsibilidade e dependem desta previsibilidade, que é para ele crucial, obrigatória. A previsibilidade é confortável, segura e aconchegante, por isto mesmo, viciante. Não se trata então de falta de novas perspectivas, ele na verdade trabalha com elas no sentido de que está sempre planejando ações futuras ou pensando no futuro, mas é para ele condição sine qua non que estas novas perspectivas sejam previsíveis, e que ele possa prevê-las, deduzi-las, planejá-las, ou seja, tudo tem de estar no organograma e no fluxograma.
Quanto a impulsividade/ indisciplina / não seguir instruções /dificuldade de entender os conceitos ou atraso no processamento: Por seu raciocínio extraordinário e complexo, sofisticado, não há por parte do autista, na minha opinião, dificuldade alguma em entender os conceitos. Eles são entendidos, mas muitos, para o autista , são simplesmente chatos/desinteressantes e/ou estão nos últimos lugares da terrível lista de prioridades dele (terrível para os neurotípicos, só para os neurotípicos, parafraseando aquela propaganda antiga de inseticida...rsss).E não há atraso no processamento, por que , ao contrário, o processamento autista é muito mais veloz do que o normalmente empregado pelas outras pessoas em situações corriqueiras. Só que lida com uma massa de informação muito maior e mais densa, e com isto, leva naturalmente muito mais tempo. se um neurotípico comum fosse, para um assunto simples, usar toda esta massa de informação que autista usa para o mesmo assunto, demoraria muito, mas muito mais para conseguir processar, se conseguir. Só que, como eu disse antes, a mente neurotípica é sintética, então não usa a árvore hierárquica complexa de prioridades de análise do autista, então seu raciocício mais simples consegue ser mais rápido(mas em muitos casos muito menos preciso e mais sujeito a falhas).Então, como eu sempre digo: não há atrasos, e sim, tipos de processamento de informações diferentes, existem mais de uma forma correta de processar, pensar e raciocinar. Se não é nada disto, então o que seria? Minha sugestão é a de que o autista, como dito anteriormente, não gosta de nada imposto, e a idéia de que alguém possa ser mais "perfeito" do que ele e saber mais do que ele , ou estar hierarquicamente acima dele é fonte geradora de frustração, desilusão, depressão ,culpa e fracasso, além de ansiedade, resumindo: complexo de inferioridade.
Ele gostaria de ele mandar, ele instruir, não de receber ordens. Receber ordens ou instruções para ele é visto como um humilhação e reconhecer a autoridade das outros significa para ele reconhecer seu fracasso como autoridade sobre os outros , portanto, da sua suposta e pretendida "perfeição".
Alerta vermelho, alerta vermelho! Soa a sirene na mente autista, sua auto -estima, segurança de si, e auto confiança, além de amor próprio, estão em perigo! Por isto sempre digo: não mande, sugira, dê opções a escolher, peça a opinião dele, deixe-o discutir a ordem- se você conseguir dar a explicação lógica e complexa, completa o suficiente(e não parecer uma ordem) , ele a aceitará numa boa.
No tocante a não olhar nos olhos, evitar sons e luzes e cheirar e girar objetos ser na verdade uma desordem sensorial, na modesta opinião do autista que vos fala, não é bem assim: a questão de olhar nos olhos é uma questão de natureza básicamente neurológica, que com auto treinamento constante e sistemático, pode ser superada. Porém, se pai ou mãe tiverem um comportamento e um olhar por demais autoritário e severo, o comportamento de não olhar nos olhos recrudesce devido a traumas psicológicos e medo.
Certos olhares dos pais podem ser por demais esmagadores, opressores para o autista e muitas vezes os pais nem se dão conta.
Já no tocante a sons e luzes, como já disse antes, o autista gosta de ficar no seu MIF e isto exige dele uma enorme concentração e energia mental. Então, se sons e luzes o atrapalham e desconcentram, ele se irritará e lhe parecerão extremamente desagradáveis. Certos sons e luzes (como o barulho do motorzinho do dentista , a luz na cara do consultório do dentista, ou do motor de caminhão com cara brava) podem estar relacionados, ao se evitá-los, a traumas psicológicos, pois ele os relaciona ' dor, sofrimento ou vilões de seu MIF. Cheirar objetos a mim parece mais uma questão de pura curiosidade mesmo. Mas girar objetos é mais complexo: acredito que o autista vê no objeto que gira, uma beleza, uma harmonia e um encadeamento lógico de movimentos , um levando ao outro infinitamente, que o fascina, maravilha, e de certa forma, vicia, pois quanto mais ele se fascina com aquilo, mais quer tentar observar novos e novos detalhes e sorver s delícias de ver refletida no objeto que gira, sua própria harmonia interna, de seu MIF.
Uff, cansaram, gente?
Desculpem pelo artigo tão longo, mas o assunto era complexo demais para ser abordado sintética ou superficialmente!
Obrigado pela atenção e paciência de vocês!

Cristiano Camargo
Síndrome de Asperger - Autismo infantil

terça-feira, 17 de junho de 2014

Oficina de Atividades Interativas para o Desenvolvimento e Inclusão Escolar – Módulo 3

São Paulo – SP
05, 06 e 07 de setembro de 2014
(sexta, sábado e domingo - 
veja horários)
Carga horária de 24 horas
Certificado de participação
Inscreva-se Agora

Valor das inscrições por participante:
R$780 até o dia 27 de junho.
R$825 até o dia 26 de julho.
R$870 até o dia 26 de agosto.
Inscrições limitadas e abertas até o dia 26 de agosto de 2014 (terça-feira).
Autismo - Atividades Interativas para o Desenvolvimento e Inclusão Escolar
Para promover o desenvolvimento de pessoas com diagnósticos e características do espectro do autismo, você poderá participar de nossa oficina e aprender a criar continuamente atividades interativas divertidas e eficazes nos diferentes estágios do desenvolvimento. Os participantes receberão orientações sobre como utilizar a Tabela de Habilidades da Inspirados pelo Autismo, a qual contém metas para os diferentes estágios do desenvolvimento de habilidades socioemocionais e de comunicação de nossas crianças, adolescentes e adultos no espectro. Demonstraremos como planejar e executar atividades interativas que promovam o alcance das principais metas estabelecidas para os estágios 1 a 4 do desenvolvimento. E na tarde de 6a feira, o tema Inclusão Escolar estará em foco!

Programação

6a feira à tarde – O Estilo Responsivo na Inclusão Escolar

Estratégias para a inclusão escolar
Estratégias para a realização de um projeto de inclusão escolar aliado ao programa de desenvolvimento de estilo responsivo: a criação de uma parceria contínua entre família, escola e equipe multidisciplinar; estratégias para o professor regente e professor mediador; otimização da apresentação do conteúdo; adaptação de materiais pedagógicos; adaptação do grau de desafio; estratégias para avaliação; adaptações de ambiente; a criação de uma rotina personalizada integrada à rotina da classe; a mediação da interação entre os alunos da classe; estabelecimento de regras e limites; atividades de apoio fora do ambiente escolar.

Sábado e Domingo – Oficina de Atividades Interativas para o Desenvolvimento

Estudo da Tabela de Habilidades
Orientação sobre como utilizar a Tabela de Habilidades da Inspirados pelo Autismo na avaliação do estágio de desenvolvimento da pessoa com características do autismo e estabelecimento de metas para o seu programa interacional, responsivo, motivacional e lúdico.
Exemplificação de Atividades
Exemplificação de atividades adequadas para promover a aquisição das principais habilidades do 1o, 2o, 3o e 4o Estágios de Desenvolvimento da Tabela de Habilidades da Inspirados pelo Autismo.
Autismo - Atividades Interativas para o Desenvolvimento e Inclusão EscolarCriação de Atividades Personalizadas
Planejamento de atividades para o 1o, 2o, 3o e 4 o Estágios levando-se em conta os interesses, habilidades e necessidades das pessoas com características do autismo representadas pelos participantes presentes no curso.
Estratégias para a Execução das Atividades Visando o Aprendizado
Instruções sobre como apresentar e estruturar as atividades para que as crianças, adolescentes e adultos mantenham-se conectados e participativos, realizem tarefas com graus de desafio gradativamente maiores, transfiram, generalizem e expandam o aprendizado.
Expressividade e Criatividade
Dinâmicas práticas para o desenvolvimento das habilidades de expressividade corporal, facial e de voz, habilidades de improvisação e de criatividade dos participantes (desenvolvimento de habilidades expressivas e criativas que promovem mais interações altamente conectadas com pessoas que possuem características do espectro do autismo).
Pré-requisito: Participação em um curso de Módulo 1 da Inspirados pelo Autismo. (Aqueles que já tiverem participado de um curso de Módulo 2 da Inspirados pelo Autismo também poderão participar do Módulo 3.)

Horários do Curso

6a feira
13:30 às 14:00 cadastro
14:00 às 15:45 aula
15:45 às 16:15 intervalo (coffee break)
16:15 às 18:00 aula
Sábado
09:00 às 10:45 aula
10:45 às 11:15 intervalo (coffee break)
11:15 às 13:00 aula
13:00 às 14:30 almoço
14:30 às 16:30 aula
16:30 às 17:00 intervalo (coffee break)
17:00 às 19:00 aula
Domingo
08:00 às 09:45 aula
09:45 às 10:15 intervalo (coffee break)
10:30 às 12:00 aula
12:00 às 13:30 almoço
13:30 às 15:30 aula
15:30 às 16:00 intervalo (coffee break)
16:00 às 18:00 aula

Ministrantes

Mariana Tolezani, fundadora e diretora da Inspirados pelo AutismoMariana Tolezani (currículo resumido), fundadora e diretora da Inspirados pelo Autismo, trabalha com crianças e adultos com talentos e necessidades especiais de aprendizagem há mais de 14 anos, tendo trabalhado diretamente com mais de 350 crianças e adultos especiais de diversos países e culturas. Graduada em Comunicação Social – Rádio e Televisão pela ECA/USP, trabalhou na instituição The Action Group, na Escócia, com pessoas com necessidades especiais e diversos diagnósticos, como autismo, paralisia cerebral, Síndrome do X Frágil, Síndrome de Down, e outros (1999 e 2000). Coordenou o projeto de Expressão em Vídeo para os alunos portadores de Síndrome de Down da instituição ADID – Associação para o Desenvolvimento Integral do Down – em São Paulo (2001). De 2005 a 2007, recebeu treinamento no Autism Treatment Center of America, em Massachusetts, nos EUA, tornando-se de 2007 a 2009 Facilitadora Infantil Certificada do Programa Son-Rise para trabalhar diretamente com crianças e adultos diagnosticados no espectro do autismo. Na Inspirados pelo Autismo, Mariana ministra cursos e treinamentos relativos ao desenvolvimento de programas educacionais para crianças e adultos com autismo, e realiza os serviços personalizados como consultorias presenciais e virtuais oferecidas às famílias e profissionais ligados a pessoas com autismo.
Juliana Alves Santiago é graduada em Psicologia pela FURB-SCJuliana Alves Santiago (currículo resumido) é graduada em Psicologia pela FURB-SC e possui formação em Psicologia Existencialista pelo NUCA-SC. Tem trabalhado há mais de 9 anos com crianças, adolescentes e adultos com autismo. Juliana tem demonstrado e ensinado a metodologia responsiva utilizada pela Inspirados pelo Autismo realizando palestras e consultorias presenciais em diversas regiões brasileiras junto às famílias e instituições que atendem pessoas com o diagnóstico do espectro do autismo. Em suas consultorias, Juliana realiza divertidas e eficazes sessões de trabalho com as pessoas com autismo e coordena reuniões para o ensino-aprendizagem do método com os familiares, voluntários e profissionais envolvidos. Em 2010 foi palestrante do I Encontro Nacional de Autismo em São Paulo. Forneceu capacitação em inclusão escolar de crianças com autismo aos educadores da Rede Municipal de Ensino de Blumenau (CEMEA) de 2010 a 2012.
Lincoln Macedo é graduado em Educação Física e especialista em Educação e Reeducação Psicomotora pela UERJLincoln Macedo (currículo resumido) é graduado em Educação Física e especialista em Educação e Reeducação Psicomotora pela UERJ.Tem trabalhado há mais de 6 anos com crianças e adolescentes com autismo, tanto em sessões domiciliares individuais como em mediações escolares. Lincoln utiliza sua expressividade, criatividade e sensibilidade para conectar-se às crianças e adolescentes com quem trabalha e oferecer sessões divertidas e eficazes, além de coordenar reuniões para a aprendizagem do método responsivo com os familiares, voluntários e profissionais envolvidos no programa de desenvolvimento de cada criança.

 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O que são os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)?

Paula Nadal (paula.nadal@fvc.org.br)
Os Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) são distúrbios nas interações sociais recíprocas que costumam manifestar-se nos primeiros cinco anos de vida. Caracterizam-se pelos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, assim como pelo estreitamento nos interesses e nas atividades.
Os TGD englobam os diferentes transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett.
Com relação à interação social, crianças com TGD apresentam dificuldades em iniciar e manter uma conversa. Algumas evitam o contato visual e demonstram aversão ao toque do outro, mantendo-se isoladas. Podem estabelecer contato por meio de comportamentos não-verbais e, ao brincar, preferem ater-se a objetos no lugar de movimentar-se junto das demais crianças. Ações repetitivas são bastante comuns.
Os Transtornos Globais do Desenvolvimento também causam variações na atenção, na concentração e, eventualmente, na coordenação motora. Mudanças de humor sem causa aparente e acessos de agressividade são comuns em alguns casos. As crianças apresentam seus interesses de maneira diferenciada e podem fixar sua atenção em uma só atividade, como observar determinados objetos, por exemplo.
Com relação à comunicação verbal, essas crianças podem repetir as falas dos outros - fenômeno conhecido como ecolalia - ou, ainda, comunicar-se por meio de gestos ou com uma entonação mecânica, fazendo uso de jargões.
Como lidar com o TGD na escola?Crianças com transtornos de desenvolvimento apresentam diferenças e merecem atenção com relação às áreas de interação social, comunicação e comportamento. Na escola, mesmo com tempos diferentes de aprendizagem, esses alunos devem ser incluídos em classes com os pares da mesma faixa etária.
Estabelecer rotinas em grupo e ajudar o aluno a incorporar regras de convívio social são atitudes de extrema importância para garantir o desenvolvimento na escola. Boa parte dessas crianças precisa de ajuda na aprendizagem da autorregulação.
Apresentar as atividades do currículo visualmente é outra ação que ajuda no processo de aprendizagem desses alunos. Faça ajustes nas atividades sempre que necessário e conte com a ajuda do profissional responsável pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE). Também cabe ao professor identificar as potências dos alunos. Invista em ações positivas, estimule a autonomia e faça o possível para conquistar a confiança da criança. Os alunos com TGD costumam procurar pessoas que sirvam como 'porto seguro' e encontrar essas pessoas na escola é fundamental para o desenvolvimento.

http://revistaescola.abril.com.br/formacao/transtornos-globais-desenvolvimento-tgd-624845.shtml?fb_action_ids=718886284837495&fb_action_types=og.comments&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B444489365696090%5D&action_type_map=%5B%22og.comments%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste percurso

INTRODUÇÃO
A comunicação humana pode ser diferenciada da comunicação das outras espécies animais de três maneiras diferentes. A primeira e a mais importante é a possibilidade de simbolizar. Os símbolos lingüísticos são convenções sociais de significados, nos quais cada indivíduo compartilha sua atenção com o outro, direcionando a sua atenção ou seu estado mental (pensamento) para alguma coisa no mundo que os cerca. A segunda diferença é que a comunicação humana lingüística é gramatical. Os seres humanos usam os símbolos lingüísticos associados em estruturas padronizadas. A terceira é que, ao contrário das outras espécies animais, os seres humanos não têm um único sistema de comunicação utilizado por todos os membros da espécie. Portanto, diferentes grupos de humanos convencionaram, no decorrer da história, sistemas mútuos de comunicação. Isso significa que a criança, diferente das outras espécies animais, deve aprender as convenções comunicativas usadas por aqueles a sua volta, pela sociedade da qual faz parte1.
A linguagem é um importante fator para o desenvolvimento e aprendizagem. A língua oral seria uma base lingüística indispensável para que as habilidades de leitura e escrita se estabelecessem. As habilidades de linguagem receptiva e expressiva também foram consideradas por diversos autores como bons sinais precoces da compreensão de leitura2-4. Um dos achados em pesquisa foi o de que crianças com desenvolvimento abaixo do esperado na alfabetização apresentam um desempenho insatisfatório em compreensão da linguagem, produção sintática e tarefas metafonológicas.
As habilidades cognitivas e as formas de estruturar o pensamento do indivíduo não são determinadas apenas por fatores congênitos. Estão, na verdade, relacionadas às atividades praticadas de acordo com o contexto cultural em que o indivíduo se desenvolve. Conseqüentemente, a história da sociedade na qual a criança se desenvolve e a história pessoal dessa criança são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar. Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem tem papel fundamental na determinação de como a criança vai aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de pensamento são transmitidas à criança através de palavras5,6.
Diante destas constatações, decidimos por realizar uma revisão bibliográfica da aquisição e desenvolvimento da linguagem, mais especificamente de 0 a 5 anos, assim como de alguns entraves que podem ser encontrados no processo. Apesar de relevantes e, infelizmente, freqüentes, alterações ligadas à negligência grave e violência do meio não foram descritas, uma vez que demandariam outro tipo de fundamentação teórica, deixando o artigo muito extenso.

AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Compreendendo Linguagem
A aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e social, ou seja, de um bom desenvolvimento de todas as estruturas cerebrais, de um parto sem intercorrências e da interação social desde sua concepção. Em outras palavras, apesar de longas discussões sobre o fato da linguagem ser inata (de nascença) ou aprendida, hoje a maior parte dos estudiosos concorda que há uma interação entre o que a criança traz em termos biológicos e a qualidade de estímulos do meio7,8. Alterações em qualquer uma dessas frentes pode prejudicar sua aquisição e seu desenvolvimento.
Para entendermos a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, temos que considerar dois aspectos: a linguagem ajuda na cognição e na comunicação5,6.
Linguagem e cognição: pensamos bastante por meio da linguagem depois que desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção podem ter ganhos qualitativos com ela. Por exemplo, memorizamos melhor quando fazemos associações de idéias. Ela também ajuda na regulação do comportamento. Na infância, podemos observar o desenvolvimento da linguagem como apoio à cognição a partir dos dois anos, em média, principalmente por meio da forma como a criança brinca.
• Linguagem e comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos comunicar de diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos, da fala, entre outros. A estruturação da linguagem nos permite lançar mão de recursos cada vez mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas possibilidades de comunicação.
Também é importante percebermos que podemos dividir, didaticamente, a linguagem, considerando sua forma, seu conteúdo e seu uso. O desenvolvimento costuma correr concomitantemente, entretanto, um disparate entre essas áreas pode ser indicativo de dificuldade, tal como será explicado nas próximas linhas9-11.
• Forma: engloba a produção dos sons, como se emite o fonema, e também a estrutura da frase, se tem todos os componentes e se a ordem é aceitável pela língua - níveis fonético-fonológico e morfossintático.
• Conteúdo: diz respeito aos significados, que podem estar na palavra, na frase ou no discurso mais amplo - nível semântico.
• Uso: refere-se ao uso social da língua; não basta emitir sons, estruturar uma frase e saber o significado, tem que adequar tudo isso ao contexto em que está sendo empregado - nível pragmático.
Passadas estas considerações, vamos pensar em algumas etapas de desenvolvimento.
Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem
• Comunicação não-verbal: desde muito cedo já pode ser observada, como as variações do tônus (contração/descontração muscular) entre a mãe e o bebê, o olho no olho, as expressões faciais. O apontar por volta dos 11 meses é um marco, podendo inicialmente ter a intenção apenas de "mandar" (apontar para algo que quer) e depois pode ter a intenção de compartilhar a atenção com alguém (apontar para que outra pessoa possa acompanhar aquele momento)7,12.
• Produção dos sons*: os primeiros fonemas da língua são aqueles produzidos com os lábios, como /b/ /m/ /p/. Logo depois surgem /n/ /t/ /l/ , e, em seguida, /d/ /c/ /f/ /s/ e /g/ /v/ /z/ /R/ /ch/ /j/. Só mais tarde observamos a produção adequada de alguns fonemas como /lh/ /nh/ /r/. A combinação destes fonemas nas sílabas podem ser complicadores, como está exposto no próximo item13-15.
• Estrutura das sílabas: as formações silábicas mais simples são consoante-vogal (CV), como PA, LO, etc; ao se inverter essa ordem (vogal-consoante), já se tornam um pouco mais difíceis, como AR, US, etc. Quanto maiores, mais difíceis se tornam. Para ilustrar, podemos apresentar palavras com sílabas consoante-vogal-consoante LAR, RIS, etc. e consoante-consoante-vogal FRA, BRI, etc. No português, temos sílabas como TRANS (consoante-consoante-vogal-consoante-consoante), dentre outras, com enorme dificuldade de produção para crianças menores14,16.
• Estrutura de frases: inicialmente as crianças usam uma única palavra funcionando com frase. Mais tarde, surgem as frases telegráficas, com duas palavras em média. As frases vão se alongando, passando a ter cada vez mais elementos. A complexidade também aumenta e surgem possibilidades de compreender e expressar frases em outras ordenações, como a voz passiva. As expressões de tempo e espaço passam a fazer parte do discurso, possibilitando narrar situações que não estão presentes. As frases mais complexas que exigem mais conteúdo como as orações com pronomes do tipo "que" são possíveis a partir dos 3 anos13.
• Diálogo: até atingir a capacidade de estabelecer um diálogo (com) alguém, a criança passa por fases em que depende do adulto para que o mesmo seja possível. Em um primeiro momento, os adultos tentam adivinhar o que significam as produções pouco compreensíveis da criança (especularidade). Esta fase inicial acontece quando a criança começa a emitir sons e sílabas que podem ser compreendidas como palavras. Posteriormente, quando as crianças falam mais, aumentando um pouco a quantidade sons e os adultos podem complementá-las (complementaridade), é quando aparecem as primeiras combinações de palavras, juntando uma ou duas palavrinhas. Somente depois a criança poderá iniciar e manter um diálogo sem um auxílio tão direto (reciprocidade). Essa primeira estruturação da conversa em diálogo é gradual e, até o final dos 2 anos, a criança consegue desenvolver bem a troca dialógica destas três etapas13,17,18.
• Brincadeira: as brincadeiras podem ser inicialmente construtivas (jogos de montar/desmontar). Ao mesmo tempo, desenvolvem-se as plásticas (desenho, massinha, etc.). As projetivas podem começar ao mesmo tempo e vão se desenvolvendo em subetapas, como a imitação de situações vivenciadas; mais tarde (surge) o faz de conta até atingir o devaneio (presença de situação imaginária e de história com seqüência, possibilidade de brincar junto e não apenas "ao lado"). Importantes, também, são os jogos com regras que começam simples e vão se sofisticando13,19,20.
A fim de melhor visualizar tais parâmetros, a Tabela 1 busca, a partir da compilação dos autores referenciados, organizar tais aspectos nas fases do desenvolvimento de 0 a 5 anos.

DIFICULDADES NO PERCURSO
Por que algumas crianças começam a falar as primeiras palavras entre o primeiro e o segundo ano de vida e outras demoram a falar? Por que algumas quando começam a falar, falam claramente e outras parecem falar outra língua? Existem transtornos que acometem a criança e causam atraso na aquisição e no desenvolvimento da linguagem. Esta seção visa à apresentação, com linguagem simples, de informações sobre algumas das alterações na área da linguagem nesta fase do desenvolvimento. Quando são listados sintomas, deve-se ter a clareza de entender que várias características fazem parte da evolução. Deve-se ficar atento quando elas se tornam persistentes e passam a atrapalhar alguma área do desenvolvimento. Normalmente, nem todas as características estão presentes em todas as crianças.

ATRASO SIMPLES DE LINGUAGEM21,22
O Atraso Simples é encontrado em crianças que apresentam defasagem no desenvolvimento da linguagem; essas crianças demoram a falar e parecem imaturas. Aparentemente, esse atraso pode ser ocasionado por dores de ouvido e complicações respiratórias no período de aquisição da linguagem e/ou estímulos inadequados para o desenvolvimento da mesma. Seu padrão de linguagem é compatível com crianças mais novas (menor idade cronológica), mas seguindo a mesma ordem de aquisição. Algumas crianças podem recuperar o atraso inicial com orientação adequada. Algumas características:
Frases simples, mas sem alteração na ordem das palavras;
Podem combinar sílabas de fonemas diferentes;
Vocabulário reduzido por falta de experiência;
Trocas na fala;
Boa compreensão.

DESVIO FONOLÓGICO15,23
Utilizamos esse nome para caracterizar crianças com idade igual ou superior a 4 anos, aproximadamente e que apresentam alteração no desenvolvimento da fala em diferentes graus. Os desvios na fala não se limitam a alterações na força ou mobilidade dos órgãos responsáveis pela fala, mas são decorrentes de dificuldades na aquisição das consoantes da sua língua materna.
O nome Desvio Fonológico tem origem na dificuldade de formação desse arquivo de sons pelo cérebro (sistema fonológico) e irá se caracterizar por trocas na fala inesperadas para sua idade e tipo de estímulo recebido durante o seu desenvolvimento. As trocas mais freqüentes são:
S por CH, como chapo ao invés de sapo;
R por L, balata ao invés de barata;
V por F, faso por vaso;
Z por S, sebra por zebra;
Alterações na ordem das sílabas ou nos sons das palavras: mánica (máquina), tonardo (tornado);
Fala ininteligível

DISTÚRBIO ESPECÍFICO DA LINGUAGEM (DEL)4,21,24
Cerca de 3 a 10% da população apresenta o Distúrbio Específico de Linguagem (DEL), que parece acometer um maior número de meninos do que meninas.
O DEL refere-se a crianças que apresentam dificuldade em adquirir e desenvolver habilidades de linguagem na ausência de deficiência mental, déficits físicos e sensoriais, distúrbio emocional importante, fatores ambientais prejudiciais e lesão. Elas apresentam uma visível discrepância entre o desenvolvimento global e o desenvolvimento de linguagem, mas a comunicação não-verbal costuma estar intacta.
Podemos encontrar na fala de parte destas crianças (já que existem variações do problema):
Pouca memória para uma seqüência de sons, por isso tendem a falar em um primeiro momento basicamente monossílabos;
Dificuldade no planejamento motor da produção dos fonemas;
Frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa;
Vocabulário reduzido;
Trocas na fala;
Dificuldades na compreensão (ou não).

FLUÊNCIA25-27
Existem vários Transtornos da Fluência como pode ser visualizado abaixo:
• Gagueira do desenvolvimento - É considerada um Transtorno da Fluência, caracterizado por repetições de sílabas ou sons, prolongamentos, bloqueios, interjeições de sons e uso de expressões como: "éh", "ãh", marcadores discursivos: "tipo assim", "aí". Acomete 5% da população. A maior parte dos casos se inicia paralela à aquisição da linguagem e do desenvolvimento neuropsicomotor, entre 2 e 4 anos. No entanto, cabe resaltar que nessa fase gaguejar pode ser comum (gagueira fisiológica), mas a criança supera rapidamente. Sinais de risco seriam o fato de perdurar ou de mostrar sinais muito intensos. A gagueira é involuntária, não é possível controlar a sua ocorrência, e é de suma importância não chamar a atenção da criança para os momentos de gagueira, não forçá-la a falar nem constrangê-la.
• Taquifemia - as principais características são: a velocidade de fala rápida que compromete o entendimento da mensagem, hesitações e disfluências, e uma irregularidade, momentos de melhora e piora no discurso.
• Taquilalia - é caracterizada pela velocidade de fala alta que compromete o entendimento da mesma, porém não encontramos momentos de disfluências.

ALTERAÇÕES SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS28,29
Podem ser decorrentes de várias dificuldades, incluindo um subtipo de DEL, ou características do espectro autístico. Diz respeito à competência comunicativa. Não basta falar todos os sons da língua e estruturar fases complexas (estes podem ou não estar prejudicados), deve-se falar o conteúdo certo para o momento exigido. Como exemplo de alguns comportamentos lingüísticos pode-se citar:
leva o adulto como instrumento para conseguir o que deseja, no lugar de se manifestar verbalmente ou por gestos ou expressões faciais;
pouca intenção de iniciar ou manter um diálogo;
mesmo que se expresse bem, a troca de idéias é restrita (não há reciprocidade na comunicação);
mais facilidade para listar palavras ou situações do que para contar histórias;
dificuldade com a linguagem figurada, incluindo a compreensão de metáforas e/ou piadas;
ingenuidade em situações sociais, com dificuldade em se colocar no ponto de vista dos outros;
tendência a superfocar em objetos ou assuntos em particular, em detrimento de uma visão mais global sobre a situação ou assunto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema lingüístico que nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir a nossa identidade, além do desenvolvimento dos aspectos cognitivos já discriminados acima.
Dentre todas as questões complexas que envolvem esse processo, o atraso "simples" na aquisição da linguagem dificulta o amadurecimento e a experimentação da linguagem necessária para a aquisição formal da leitura/escrita. Sua imaturidade lingüística irá refletir no vocabulário reduzido e no conhecimento de mundo restrito. Tal fato trará repercussões na interpretação de textos e também na elaboração de histórias escritas.
Falhas na aquisição e no desenvolvimento fonológico, como problemas na produção dos sons da fala ou discriminação dos mesmos, podem refletir na leitura e/ou na escrita. Então podem levar a criança, por exemplo, a trocar, omitir ou transpor fonemas ou grafemas. A criança demoraria a adquirir a autonomia dos processos de leitura e escrita ou podem culminar com problemas maiores.
Em relação ao DEL, ao verificarmos a literatura, nos deparamos com a seguinte realidade: apenas 10% dessas crianças não apresentam nenhum tipo de problema de leitura30. Duas razões para a vulnerabilidade de crianças DEL em relação à leitura e à escrita: a dificuldade na análise fonológica e memória e dificuldade em usar a sentença, para que o contexto facilite a compreensão de novas palavras.
As alterações de ordem semântico-pragmáticas estão associadas à rigidez dos pensamentos e pouca flexibilidade no raciocínio, à dificuldade em atribuir sentido além do literal, associar palavras ao seu significado e compreender a linguagem falada. Desta forma, a aprendizagem não é generalizada e acaba comprometida.
Neste artigo, não tivemos pretensão de esgotar o assunto, tão rico e amplo, mas buscamos agregar trabalhos que exploram diversos lados da linguagem. Ao pensarmos em aprendizagem, todos os níveis lingüísticos estão envolvidos, e negligenciar um deles seria perder a oportunidade de ver o sujeito da linguagem. O intuito de abordar a faixa etária de 0 a 5 anos reflete o desejo de poder atuar precocemente, antes da entrada no ensino formal, onde as demandas são maiores e maior será o tempo a ser resgatado. Dois aspectos que ainda merecem ser discutidos são o desenvolvimento da narrativa e a aquisição da linguagem figurada, já que fazem parte de todo o processo e são de extrema relevância para a aprendizagem. Por serem menos explorados, merecem artigos à parte.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0103-84862008000300012&script=sci_arttext

O Desenvolvimento da Linguagem da Criança



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5 Dicas que podem ajudar a MEMÓRIA!


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